Diz quem experimentou que depois da
primeira experiência, o desejo é repetir. O mistério dos caminhos de
Santiago une várias gerações, pessoas de todas as classes sociais da
Europa e do mundo desde há 12 séculos, quando foram encontrados os
restos mortais do apóstolo São Tiago, ou Santiago, na atual a cidade
espanhola de Santiago de Compostela.
Os caminhos de Santiago estão espalhados
por toda a Europa. Pelo facto de a maior parte deles ligar-se a ele, o
“caminho francês” é o mais emblemático e desejado. Começa em
Saint-Jean-Pied-de-Port, entra na Espanha por Roncesvalles, no sopé
dos Pirenéus, e de lá segue por cerca de 800 quilómetros até Compostela.
Este é o percurso que Ricardo Santos e Luís Dinis se propuseram a
percorrer de bicicleta na segunda quinzena de agosto de 2013.
A ideia surgiu em setembro, pouco depois
de terem completado o “caminho português”. Ricardo, 36 anos, trofense e
escriturário de profissão, foi o “estreante” do grupo “oficioso” Amigos
de BTT e confirmou as expectativas que se formaram com os relatos de
quem já tinha experimentado. “Depois de fazer dá-se o real valor.
Sofre-se, sofre-se muito com as subidas e as temperaturas, mas depois
valorizamos o esforço, quando chegarmos àquela praça… É um alívio
conseguir chegar ao destino e a verdade é que se começa logo a pensar
por onde o vamos fazer no ano seguinte”, narrou.
A paixão pelo BTT faz o famalicense Luís
Dinis percorrer os caminhos de Santiago desde há cinco anos. Com 38
anos, o empresário e pai de família apelida o “caminho francês” como
“mítico” e aquele “que toda a gente sonha fazer”. Uns vão por fé, outros
por busca interior, numa abordagem que ultrapassa as barreiras
culturais. Mas há outros, os já apelidados de “turigrinos”, que o fazem
por mera curiosidade turística. “Vamos por tudo, não só pela fé, mas que
no caminho há qualquer coisa de transcendente, lá isso há. O espírito
dos caminhos parece que transforma as pessoas. O sentimento de
sacrifício é muito forte e o convívio com as pessoas indiscritível”,
esclareceu.
Para elevar ainda mais a fasquia e
aumentar os dividendos de uma experiência como esta, os dois amigos
pensaram aliá-la à solidariedade.
Quilómetros valem bens para duas instituições
Como? “Vendemos os quilómetros que vamos
fazer a um preço simbólico de um euro, para ajudar duas instituições: a
ASAS (Associação de Solidariedade e Acção Social de Santo Tirso), com
ação na Trofa, e o Centro Social e Paroquial de Brufe, em Vila Nova de
Famalicão”, explicou Luís Dinis. Como o percurso tem 800 quilómetros,
cada um venderá este montante, que é o mínimo já prometido às
instituições. No entanto, Ricardo e Luís querem que o esforço seja
valorizado com um montante superior. Isso significaria uma maior fatia
para cada uma das instituições. Os donativos podem ser feitos através de
transferência bancária através do NIB 0036 0494 99106001014 52. “Não há um valor estipulado, a
conta fecha no final da etapa, que poderá andar à volta do dia 24/25 de
agosto. No final, dividimos o valor a meio e convertemo-lo em bens que
as instituições necessitem”, referiu.
Os dois amigos sabem que não haverá
muitas oportunidades de só uma pessoa comprar “cem quilómetros”, como já
aconteceu, por isso Luís Dinis salienta a importância de fazer com que a
mensagem chegue ao maior número de pessoas, pois é apologista de que
“ter muitas pessoas a dar um euro cada, significa que a palavra passará a
muita gente”. A nove meses daquela a que apelidaram “Aventura
Solidária”, já têm vendidos “465 quilómetros”. “É um bom início”,
afirmam, desejosos que o ritmo se mantenha crescente. “Só estamos a
pedir um euro a cada um. As instituições estão e vão passar por muitas
dificuldades. A ASAS, cuja visita deixou-me pasmado pela área enorme de
atuação, vai deixar de ter apoios nalgumas valências e terá que as
suspender. Este é o nosso contributo para fazer algo pela comunidade”,
frisou Luís Dinis.
Cada pessoa que contribua terá acesso a
uma credencial “simbólica” a agradecer a compra de quilómetros. No
final, como prova do percurso, terão a Compostela (diploma de quem fez
os caminhos), conseguida na Catedral quando apresentada as credenciais
de peregrino carimbadas desde França até Santiago. Pelo menos, de 30 em
30 quilómetros temos que carimbar, onde fica marcado o dia da passagem.
“Quem vai a pé, apanha mil e um carimbos, já nós tentamos recolher o
máximo para ficar com a recordação”, esclareceu.
Mochila “às costas”
Ricardo e Luís vão de “mochila às
costas”, sem qualquer apoio durante a viagem, mas com vontade de
“desfrutar”. Não vão para “fazer 100 quilómetros por dia”, mas sim uma
média de 65, tirando o primeiro dia em que serão feitos 35 nos Pirenéus,
uma das etapas mais árduas. As noites serão passadas nos albergues de
peregrinos e a ideia “é mesmo levar uma esteira” para as alturas de
sobrelotação. Como a viagem acarreta alguns custos, os dois aventureiros
estão a “solicitar” apoio logístico às empresas, que considerem a causa
nobre. A viagem até ao ponto de partida será feita de comboio.
Assim como “os miúdos se entusiasmam com
as coisas novas”, também Ricardo e Luís anseiam pelo dia que marcará o
início da aventura. No entanto, o segundo não deixa de encarar o desafio
com “apreensão”. “Vou passar em sítios que eu não conheço minimamente e
estamos muito longe de casa. Pode haver acidentes ou doenças, como já
aconteceu, mas a ansiedade é muita. Se não fizermos em 14 dias faremos
em 20, nem que seja a pé, se a bicicleta avariar”, afirmou, entre risos.
A viagem não é feita com GPS, nem outro tipo de tecnologia: a
orientação será feita através das “setas amarelas” e, no caso de
Espanha, das “vieiras”. “Vamos fazer o caminho original pelo monte, com
pequenas ligações de estrada, sem optar por facilidades”, explicaram.
No início do ano, os dois amigos começam
a preparação para a viagem com treinos intercalados na Academia
Municipal Aquaplace, que apoia a iniciativa, e pelos montes. Em junho,
um dos maiores testes será fazer o “caminho português” de Santiago.
Até lá, vão treinando com os restantes
“Amigos do BTT” nos passeios que cumprem, religiosamente, aos fins de
semana. Para o próximo já está marcado um no Gerês, com 50 quilómetros.
Para mais informações sobre a “Aventura
Solidária”, pode pesquisar no facebook através das palavras “Aventura
Solidária Amigos do BTT”.
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